"O Último Quarto"
Nunca imaginei que iria morar em um lugar como este. Repleto de pessoas cheias de luxúria, com olhares tão maliciosos e gananciosos, que me causam calafrios.
Eu era casada com um homem milionário, chamado Cristian. Ele era perfeito: seus olhos castanhos refletiam seus sonhos, um sorriso encantador e charmoso estava sempre estampado em seu gracioso rosto, seus cabelos negros com leves ondulações, me lembravam uma noite quente em uma praia, onde o vento fazia com que as águas se agitassem levemente, causando ondas serenas e belas. Eu amava ele. Cristian dizia que eu era seu único amor e claro que acreditava.
Tudo parecia lindo e perfeito em nossas vidas, eu acreditava que ele era o amor de minha vida. Eu finalmente estava feliz. O tempo foi passando e Cristian, estava ficando cada vez mais distante, mas eu não percebia. Comecei a me esforçar para agradá-lo: estava sempre cozinhando o que ele mais gostava, mantendo a casa limpa e organizada, desfazendo amizades que ele não gostava. Eu estava cada vez mais sozinha, mas não me importava, contanto que eu tivesse ele.
Eu estava tão feliz e completa, que não percebia seus insultos disfarçados de elogios. A cada palavra que ele dizia, um pedaço de mim morria cada dia mais. Eu não imaginava que estava em um relacionamento abusivo.
Em um sábado a noite no meio de setembro de 2018, um dia após nosso aniversário de três anos de casamento, eu o vi se arrumando muito bem e com um perfume que se espalhava por toda a casa. Eu estava intrigada, ele não havia dito que iria sair.
Cordelia: Aonde você vai Cristian? Não sabia que sairia hoje. Nós geralmente fazemos uma noite de jogos nos sábados.
Cristian: vou sair com alguns amigos, não ficarei para jogar. — disse o homem com desdém.
Cordelia: faz um tempo que não saímos juntos, perguntei posso ir com você?
Cristian: claro amor pode sim se arrume bem, que nos encontramos no endereço que vou te passar por mensagem...
Cordelia: tudo bem então te encontro lá.
O local onde nos encontraríamos, ficava na rua Augusta, N°117, nunca havia visto essa rua ou sequer me lembrava de ter ouvido falar, mas eu confiava em meu marido, então peguei o carro e coloquei o endereço no GPS.
Segui o caminho que o GPS indicava. Estava tarde, 21:30 da noite. As ruas tinham pouca movimentação e tudo estava escuro. Quando o GPS anunciou que havia chegado em meu destino, comecei a analisar o lugar: uma casa muito bonita, tinha flores ao redor (margaridas talvez?), a rua era bem movimentada porém um pouco escura, procurei um local ''seguro" e bom para estacionar, mas tudo era tão estranho e desconhecido que não tive coragem de deixar o carro na rua. Após alguns minutos procurando um estacionamento pela região, eu descobri que lá na casa onde eu e meu marido íamos nos encontrar, tinha um estacionamento. Desliguei o rádio, peguei meus pertences e deixei meu carro, paguei R$15, e segui caminho para encontrá- lo.
Quando toquei a campainha, uma moça abriu a porta, já era 22:00 da noite, ela tinha olhos castanhos escuro, cabelo preto curto uma aparência desconfiada, e assim como eu, a mulher me analisavam cautelosamente.
Débora: posso ajudar? Qual é o seu nome?
Cordelia: olá, e-eu sou Cordelia. Meu marido, Cristian, disse que nos encontraríamos aqui— eu estava sentindo calafrios e estava nervosa, eu não sabia o porquê.
Débora: Cristian? Ele é seu marido?
Cordelia: sim, ele é.
Débora: um instante, eu já volto.
A mulher fechou a porta. Enquanto aguardava seu retorno, notei luzes que vinham de dentro da casa. Era possível escutar uma música ressoando de longe, juntamente de algumas risadas e vozes desconhecidas.
Débora: perdoe-me pela demora. Eu trouxe uma chave para você, todo visitante que chega a primeira vez aqui tem a oportunidade de usar a chave.
Cordelia: muito obrigada. — a chave era dourada com um símbolo de uma coroa em seu meio, e tinha a letra “C” gravada junto a coroa. Eu suspeitei, afinal, como ela poderia ter adivinhado que meu nome começava com “C”? Não nos conhecíamos até minutos atrás. Talvez a chave fosse de Cristian, mas por que ele teria uma chave desse lugar?
Débora: entre seja bem vinda.
Observei o lugar. Agora via claramente as luzes e a música que ouvia lá for a certamente era menos agitada do que a que toca no momento. Passei meus olhos ao redor do lugar, procurei o Cristian mas não o encontrei. Tentei ligar mas seu telefone caía na caixa postal. Coincidentemente encontrei uma "amiga" minha que conhecia ele também.
Cordelia: Eduarda você por aqui?
Eduarda: Cordelia? Ah meu Deus, quanto tempo!
Nos abraçamos e conversamos sobre como andava nossas vidas. Subitamente me senti com vontade de ir a um banheiro, e perguntei para Eduarda, onde poderia encontrar.
Eduarda: lá em cima onde fica os quartos, o banheiro fica a sua direita de frente ao primeiro quarto.
Cordelia: certo, obrigada já volto.
As escadas estava entre um palco e um extenso bar. Subi as escadas, e notei que a iluminação do lugar, era vermelha e no final do corredor havia uma parede com o mesmo símbolo que estava na chave que peguei. Uma coroa, mas ela era feita com uma luz neon dourada com uma serpente a envolvendo. Finalmente entrei no banheiro. Quando saí, encontrei a Débora, que Eduarda me disse ser a recepcionista, me aguardando do lado de fora.
Débora: quer que eu te mostre os quartos?
Cordelia: sim fiquei curiosa para ver.
Conforme íamos adentrando alguns quartos, percebia o quão estranho aquele ambiente era. A parte de fora da casa, era algo harmonioso e belo, mas quando entrávamos no lugar, tudo era tão denso e exatamente o oposto da fachada da casa: o lugar exalava drogas, dinheiro e sexo.
O telefone de Débora toca, e ela atende com uma saudação ao seu “chefe” e me deixa sozinha no vasto corredor.
Continuei seguindo o corredor para o último quarto e me deparei com uma discussão, chegando perto da porta do quarto, eu rezava para que estivesse ficando louca: ouvi a voz do meu marido Cristian e da Eduarda minha “amiga”, os dois falavam sobre algo relacionado ao roubo de drogas que eles tinham feito juntos, e ao relacionamento íntimo que eles tiveram.
Cristian: Eduarda eu só queria te usar, eu só fazia sexo com você, para conseguir as drogas, você roubou e eu queria pegar para mim. Olha para você, você é um lixo de pessoa, quando eu metia em você era só para me satisfazer e me divertir e me distrair daquela droga de casamento que tenho. Você não passa de uma prostituta, não achou que teria importância para mim achou?
Eu ouço um barulho forte e estridente, lembra o som de um tapa vem forte. Logo depois, ouço novamente a voz de meu marido.
Cristian: Eduarda sua vagabunda, VOCÊ BATEU NA MINHA CARA sua filha da…
Eduarda: é isso que eu deveria ter feito antes Cristian, como pôde seu monstro? Você vai ver, o que eu vou fazer.
Cristian: e o que você vai fazer sua idiota? Acha que tenho medo de você? Nunca!
Eduarda: é o que veremos, vou contar para sua esposa, linda e maravilhosa Cordelia, que você traiu e trai ela há 2 anos.
Cristian: ah Eduarda, você acha que a minha esposa vai acreditar em você, ela me ama, eu que sustento ela, ela nem imaginaria que eu fiz essas coisas, ela é boba demais uma verdadeira imbecil. Você não pode me atingir garota, você perdeu. É melhor você ficar calada antes que eu acabe com você.
Eu estava trêmula. Não sentia minhas pernas e minha respiração estava irregular. Eu fui enganada durante anos.
Minha vida foi uma mentira.
Ele era um ladrão, um traidor.
Eu me sentia suja, traída.
Quando lágrimas começaram a cair por meu rosto, Débora retornou. Em uma tentiva falha de esconder meu sofrimento, confusão, arrependimento e raiva, enxuguei as lágrimas e sorri falsamente.
Débora: me desculpe pela demora. Você viu o resto dos quartos? O que achou do local?
Cordelia: eu gostei muito de tudo, a decoração do lugar é incrível. Essas paredes aveludadas vermelhas com aquela coroa ali atrás, deixou tudo mais… Interessante. — minhas falas saíram entrecortadas e trêmulas.
Débora: você está bem? Parece um pouco triste. Aconteceu alguma coisa?
Ah Débora, se você soubesse de metade do que aconteceu…
Cordelia: estou bem, apenas estou cansada. — menti para a mulher que não parecia convencida com minha resposta— preciso ir embora, mas gostei de tudo!
Débora: cordelia antes de ir, quero te entregar algo. Eu não deveria estar fazendo isso já que não nos conhecemos, mas algo me diz que você irá voltar aqui, então vou te entregar um cartão. Toda vez que você tocar a campainha e me mostrar o cartão, poderá entrar.
Cordelia: muito obrigada pela hospitalidade, até mais. — disse enquanto analisava o cartão, com a cabeça cheia de questionamentos.
Quando eu saí do lugar, eu estava fraca demais para andar até o estacionamento. Onde foi que eu errei? Quando foi que tudo começou a dar errado? Eu me encostei em uma parede de um lugar escuro, um beco. As lágrimas insistiam em cair de meus olhos enquanto soluçava desesperadamente. Era como se meu coração tivesse sido arrancando de meu peito. Como fui idiota! Como fui cega! Olhei para o cartão que Débora havia me dado, jurei para mim mesma que me vingaria.
Eu falei em voz alta.
“Eu vou me vingar Cristian, eu vou destruir você, assim como fez comigo seu infeliz.”
Um hálito quente soprou em meu ouvido. Senti uma mão tocar em meu ombro. Quando me virei, uma figura apareceu. Eu não consegui ver sua face, mas sei que era um homem. Ele estava com um capuz em seu rosto e com uma roupa preta que lhe cobria inteiro.
Cordelia: quem diabos é você?
-Então você quer vingança?— disse o homem.
A voz do homem era intensa, profunda, sombria. Sua mágoa e ódio, estavam claros em sua forma de falar. O homem me causou arrepios.
-Eu posso te ajudar nisso, mas você terá que fazer algo por mim também…
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