Segredos Fatais
Uma semana após meu
aniversário de 12 anos, tia Rose faleceu, as despesas do velório haviam sido
cobertas pela família de seu falecido marido, pois não tínhamos dinheiro para
pagar pelo enterro de nossa própria parente que tanto havia lutado por nós.
Eles nos ofereceram até uma casa para vivermos, vendo o estado decadente em que
estávamos, vivendo em uma casa de dois cômodos minúsculos. Relutante, mamãe não
aceitou, disse que daria um jeito de se recompor e seguir em frente para dar-me
uma vida digna de quem eu era.
E então depois de
meses de procura e espera, ela conseguiu um emprego como assistente de gerente
em uma empresa de cosméticos em
Manhattan.
Em oito meses e meio,
comprou uma casa humilde de quatro espaçosos cômodos para morarmos, nossos
móveis eram praticamente todos doados por amigos que sabiam que não estávamos estabilizadas economicamente ainda, e não teríamos dinheiro para comprar a mobília. Sou eternamente grata por eles, que nos estenderam a mão quando tudo havia perdido o sentido mais uma vez.
Depois de anos foi
promovida a gerente, mamãe ficou tão animada com a descoberta que começou a imaginar e fantasiar a si mesma em uma praia na Califórnia, com diversas ondas e a brisa suave que
eclodia em seus cabelos louros, seus pés adentrando a água salgada e receptiva
do mar, trazendo-lhe muitas emoções que jamais pensara em sentir ou dar-se a
ousadia de pensar que um dia talvez, poderiam tornar-se reais.
Mas ela nunca teve a
chance de conhecer o mar, mesmo que tivesse se tornado uma mulher bem sucedida
e com uma boa vida, não das melhores mas não deixava de ser incrivelmente
diferente de tudo que conhecíamos.
Lembro-me de ter
aproveitado cada momento, cada refeição que nunca sequer havia pensado que
seria possível obter, como um peixe salmão acebolado acompanhado por um
vinho tinto. Eram luxos que nunca haviam passado pela minha cabeça. Saía sempre
que possível, para festas, a restaurantes com minha mãe e ríamos para uma piada
boba que lembrávamos no momento, comprava sempre as melhores roupas mas sempre
com muita pena de gastar aquela quantidade absurda com pedaços de pano cuja
qualidade, em uma loja considerada “inferior”, encontrava melhor e com preço mais
acessível, onde no final sempre acabava por desistir na hora do pagamento por
ser completamente o oposto de todos os meus conceitos morais éticos; acabava
por comprar em uma rua específica do Canadá, onde encontra-se a mesma peça de
roupa, por 200 dólares a menos.
Minha vida foi
incrível por 3 anos.
Até que em um dia
ensolarado, enquanto andávamos por um shopping, quando percebi
uma mudança repentina fisionomia de minha mãe; ela começou a empalidecer e
simplesmente ficou estática. Ficou boquiaberta e gélida, como se tivesse cruzado com
seu pior pesadelo, que de certa forma, foi o que aconteceu. Ela havia visto a
própria encarnação do diabo. Meu pai estava fazendo compras com sua nova
mulher, aparentemente muito mais nova que minha mãe, mas ainda sim acompanhada
por uma criança.
Uma criança.
De cabelos pretos e
curtos, juntamente sua mão com a de sua
(que até então havia assimilado), mãe, que era muito similar a garotinha, mas
que tinha traços fortíssimos do rosto de meu pai. Seu nariz era pontudinho como
o dele, a boca curvada em um sorriso, lembravam exatamente o sorriso dele, não restava
dúvidas.
Aquela criança era de meu pai.
O mesmo que nos abandonou e levou tudo de nós
O mesmo que dizia que me amava
Nos trocou por outra mulher
Por outra família.
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